quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vale do Paraíbaíba Paulista

O Vale do Paraíba Paulista, localizado no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, compreende as terras que se formam ao longo da Calha do rio Paraíba do Sul e as encostas das serras da Mantiqueira e do Mar. Essa disposição geográfica, mais o traçado da Estrada de Ferro Central do Brasil e posteriormente da rodovia Presidente Dutra, proporcionaram níveis diferenciados de evolução da economia. Enquanto aqueles municípios localizados na calha, mais próximos da ferrovia e da rodovia - hoje a principal do país - conheceram um intenso surto de industrialização e de urbanização a partir das décadas de 60/70, os outros, localizados nas encostas das serras do Mar e da Mantiqueira, permaneceram vinculados ao setor primário da economia, registrando constante êxodo rural e empobrecimento de sua população.
A história do Vale do Paraíba, por sua vez, esta intimamente ligada a ciclos econômicos de caráter agrário como o do café - período de maior opulência, que modificou a estrutura social e deu prestígio e poder político à região - e a produção de leite - que, por questões conjunturais, se encontra em rota de decadência, mas que ainda sustenta boa parte da população rural dos pequenos municípios - atividade introduzida com a decadência do café, ocorrida a partir de 1929, detonada pela crise na Bolsa de Nova York, levando o Vale do Paraíba a se transformar no segundo maior pólo produtor de leite do país.
No início do século XX também se introduziu nas várzeas do rio Paraíba a cultura do arroz, trazida pelos religiosos da ordem trapista, que se instalaram na Fazenda Maristela, em Tremembé e difundiram novas técnicas de plantio, incluindo-se o sistema de irrigação. Apesar das novas culturas que vêm sendo experimentadas por alguns produtores nessas várzeas, o arroz ainda é um dos mais importantes produtos agrícolas da região atingindo na safra de 2002/2003, segundo o Escritório de Desenvolvimento Rural de Pindamonhangaba, a marca de 850 mil sacas de 60 kg.
A atual estrutura fundiária do Vale do Paraíba, por sua vez, é fruto de mudanças significativas na forma de distribuição das terras, observadas a partir da decadência do café, quando fazendas passaram a ser retalhadas em partilhas e heranças familiares. Esse processo se multiplicou à medida que as gerações foram se sucedendo o que resultou numa região pontuada por pequenas propriedades e produção agropecuária marcadamente familiar.
De acordo com dados do Levantamento de Unidades de Produção Agropecuária (LUPA), realizado pelo Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo, conjuntamente com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria da Agricultura do Estado, haviam na região em 1995, um total de 12.769 propriedades rurais, das quais 10.646 tinham área menor que 100 hectares, enquadrando-se dentro do limite estabelecido pelo Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), de quatro módulos
fiscais, na classificação das propriedades familiares.
Embora não sejam dados muito recentes, esta é a única estatística disponível sobre a distribuição agrária regional, sendo suficiente, no entanto, para caracterizar como familiar, o perfil da produção agrícola da região. Também é relevante observar que o Vale do Paraíba tem peculiaridades no que se refere à questão ambiental, que o coloca numa situação diferenciada de outras regiões, resguardando significativa parcela da Mata Atlântica e um ecossistema, que limita a produção rural, na sua maior parte à subsistência e, em menor proporção, para o abastecimento regional.
Ressalte-se também dados do Pronaf, segundos quais, a agricultura familiar produz hoje 40% da riqueza gerada no campo no Brasil, calculada em R$ 57 bilhões: são quatro milhões de agricultores (84% dos estabelecimentos rurais brasileiros) que vivem em pequenas propriedades e produzem a maior parte da comida que chega à mesa dos brasileiros. Quase 70% do feijão vêm da agricultura familiar, assim como 84% da mandioca, 58% da produção de suínos, 54% do leite bovino, 49% do milho e 40% das aves e ovos, além de ser um importante instrumento para manter os trabalhadores no campo.
A realidade do meio rural, no caso valeparaibano, contrasta com a evolução dos demais setores da economia regional, impulsionada pela indústria automobilística e de autopeças que se instalou nos municípios de São José dos Campos e Taubaté, pelos empreendimentos de alta tecnologia, sobretudo no setor de aeronáutica, representada pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), também em São José dos Campos e por outros ramos industriais instalados no parque regional, como a reciclagem de alumínio, centrada em Pindamonhangaba - já reconhecida como a capital nacional de reciclagem - e a indústria química, sobressaindo-se a Basf, multinacional alemã localizada em Guaratinguetá.
O processo de industrialização do Vale do Paraíba, impulsionado inicialmente pelas vantagens da localização e, posteriormente, por políticas municipais de incentivo, também tem atraído um montante significativo de investimentos e impactado diretamente o setor de serviços, criando oportunidades para iniciativas voltadas para o lazer e entretenimento. Os negócios desse segmento prosperam à medida que as indústrias passam a ocupar
significativamente a mão de obra regional, gerando um padrão razoável de renda, e proporcionando maior demanda por atividades que ocupem o tempo ocioso do trabalhador, por conta da modernização dos processos produtivos e da evolução das relações trabalhistas, como a redução da jornada.

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